Você acabou de trazer seu bebê ao mundo. Tudo é novidade: o choro, o cheirinho, o olhar curioso. Mas, de repente, algo chama a atenção: a pele e os olhinhos parecem um pouco amarelados. O coração já dispara. “Será que está tudo bem?”
Na maioria das vezes, essa coloração é algo totalmente normal e tem até nome: icterícia neonatal. Ela é muito comum nos primeiros dias de vida e, na maioria das vezes, não representa nenhum perigo.
Vamos conversar sobre a icterícia neonatal? Quero te ajudar a entender o que está acontecendo com o seu bebê, o que é normal, quando se preocupar e como ajudar nesse momento.
O que é a icterícia neonatal?
A icterícia neonatal é aquela coloração amarelada na pele, nos olhos e, às vezes, até nos lábios do recém-nascido. Ela aparece porque o corpo do bebê ainda está aprendendo a lidar com uma substância chamada bilirrubina – um nome estranho, mas que nada mais é do que um restinho que sobra quando o sangue se renova.
Todos nós produzimos bilirrubina o tempo todo, mas nosso corpo sabe como eliminá-la. O bebê, porém, acabou de nascer. E o fígado dele ainda está amadurecendo, aprendendo a trabalhar fora da barriga da mãe. Enquanto isso, a bilirrubina pode se acumular um pouquinho no sangue, deixando o bebê com aquele tom amarelado.
Por que isso acontece com tantos bebês?
Essa é uma dúvida super comum e a resposta é simples: porque é natural. Cerca de 60% dos bebês nascem com algum grau de icterícia, e, nos prematuros, o número pode chegar a 80%.
Nos primeiros dias de vida, o corpo do bebê está se ajustando a tudo:
- O fígado ainda está “pegando o ritmo” para eliminar a bilirrubina;
- O intestino está aprendendo a funcionar;
- E o organismo está produzindo e trocando muitas células sanguíneas novas.
Tudo isso junto faz com que um pouco dessa bilirrubina circule por mais tempo, o que é suficiente para dar aquela coloração amarelada. Mas, aos poucos, o corpo aprende a lidar com isso sozinho e a cor volta ao normal naturalmente.
A icterícia neonatal pode ser perigosa?
Na maioria das vezes, não é motivo de preocupação. Esse tipo mais comum, chamado de icterícia neonatal fisiológica, aparece geralmente entre o 2º e o 4º dia de vida, e desaparece sozinha em até uma semana (ou um pouquinho mais nos bebês prematuros).
Mas há situações em que o amarelado aparece muito cedo (nas primeiras 24 horas) ou fica muito intenso.
Nesses casos, o pediatra vai investigar se há algo por trás – como uma incompatibilidade de sangue entre mãe e bebê ou uma infecção. Por isso, é importante sempre contar ao médico o que está acontecendo, mesmo quando parece algo simples.
Como saber se é a icterícia “normal”?
Alguns sinais ajudam a diferenciar a icterícia neonatal fisiológica (comum) da que precisa de atenção:
- Aparece depois do primeiro dia de vida;
- Começa leve, geralmente no rosto, e pode ir descendo para o peito e as perninhas;
- O bebê mama bem, está ativo, acorda com facilidade e tem um choro forte.
Se o seu bebê está assim, provavelmente é só o corpinho se ajustando. Mas se ele estiver muito sonolento, mamando pouco, com amarelado muito forte ou se espalhando rápido, é importante procurar o pediatra.
“Banho de sol ajuda?”
Essa é uma das dúvidas mais frequentes dos pais – e é fácil entender o porquê. Durante muito tempo, acreditava-se que colocar o bebê no sol ajudava a “curar” a icterícia neonatal.
Mas hoje a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta que o banho de sol não deve ser usado como tratamento.
Por quê? Porque o sol não tem a intensidade e o controle necessários para eliminar a bilirrubina de forma segura. Além disso, a pele do recém-nascido é muito sensível, e o sol pode causar queimaduras e desidratação.
O tratamento indicado, quando é preciso, é feito com uma luz azul especial, chamada fototerapia.
Essa luz ajuda o corpo do bebê a eliminar a bilirrubina com segurança (e é aplicada no hospital ou, em alguns casos, até em casa, sob orientação médica).
O banho de sol pode ser feito apenas de forma leve, por alguns minutinhos antes das 10h da manhã, e nunca como tratamento da icterícia neonatal. É mais uma forma de fortalecer o bebê e aproveitar um momento gostoso de conexão, sempre com orientação do pediatra.
O que o pediatra faz quando o bebê tem icterícia?
Na maternidade e nas primeiras consultas, o médico avalia a cor do bebê e, se achar necessário, pede um exame de sangue para medir o nível de bilirrubina. Se os níveis estiverem dentro do esperado, basta acompanhar. Se estiverem um pouco altos, o pediatra pode indicar fototerapia (aquele banho de luz azul de que falamos há pouco).
Durante o tratamento:
- O bebê fica de fraldinha, protegido nos olhos;
- Continua mamando normalmente;
- E o tempo de exposição à luz é ajustado conforme a melhora.
É um tratamento seguro, indolor e muito eficaz. A maioria dos bebês melhora rapidamente e volta para casa em poucos dias.
E em casa, o que os pais podem fazer?
Mesmo quando não há necessidade de tratamento, os pais têm um papel muito importante na recuperação do bebê.
O principal cuidado é garantir mamadas frequentes. O leite materno ajuda o intestino do bebê a funcionar melhor – e é justamente por meio das fezes que a bilirrubina é eliminada.
Algumas dicas simples que fazem diferença:
- Amamente sob livre demanda: Sempre que o bebê quiser, ofereça o peito;
- Evite longos intervalos sem mamar: O ideal é mamar de 8 a 12 vezes por dia;
- Observe o comportamento: Se estiver muito sonolento ou fraco, procure o pediatra;
- Nada de remédios caseiros: Nenhum chá, compressa ou banho especial ajuda e podem até fazer mal.
- Confie nas consultas de rotina: É nelas que o médico acompanha se a icterícia neonatal está diminuindo como esperado.
Sinais de alerta: quando procurar ajuda
Procure o pediatra o quanto antes se:
- A cor amarelada apareceu nas primeiras 24 horas de vida;
- O bebê está muito sonolento, difícil de acordar ou com o choro fraco;
- Está mamando pouco ou recusando o seio;
- O amarelado ficou muito intenso ou se espalhou rapidamente para o corpo todo;
- Ou se o bebê tem febre, irritabilidade ou parece diferente.
Esses sinais indicam que o corpo pode precisar de uma ajudinha médica para equilibrar a bilirrubina.
A icterícia pode voltar?
Na maioria das vezes, não. Depois que o corpo do bebê amadurece e aprende a eliminar a bilirrubina, a icterícia não costuma retornar.
Em alguns casos, especialmente em bebês amamentados exclusivamente ao seio, pode acontecer uma forma leve chamada “icterícia do leite materno”. Ela é temporária e não representa perigo, mas o pediatra acompanha de perto para garantir que tudo esteja bem.
Um lembrete aos pais
A chegada de um bebê é um turbilhão de emoções: alegria, medo, insegurança, amor. E quando algo diferente aparece (como esse amarelado) é natural que o coração aperte.
Mas lembre-se:
- Na maioria dos casos, a icterícia neonatal é apenas um sinal de que o corpo do seu bebê está amadurecendo;
- Com amor, paciência e acompanhamento médico, tudo se equilibra naturalmente;
- Confie no seu instinto, mas também nas orientações do pediatra (vocês são uma equipe).
Logo, a pele do seu bebê volta ao tom normal, e tudo isso vira apenas uma lembrança de mais uma fase superada – dessas que nos ensinam a ter calma e a confiar no tempo de cada criança. 💛
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- SANAR. Icterícia Neonatal: fisiopatologia e diagnóstico das grandes síndromes ictéricas neonatais. Disponível em: https://sanarmed.com/ictericia-neonatal-fisiopatologia-e-diagnostico-das-grandes-sindromes-ictericas-neonatais-colunistas/. Acesso em: 25 out. 2025.
- UPTODATE. Unconjugated hyperbilirubinemia in newborns ≥35 weeks of gestation: etiology and pathogenesis. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/unconjugated-hyperbilirubinemia-in-newborns-35-weeks-of-gestation-etiology-and-pathogenesis?search=icterícia%20neonatal&source=search_result&selectedTitle=1~89&usage_type=default&display_rank=1. Acesso em: 25 out. 2025.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Icterícia neonatal: orientações e cuidados. Departamento Científico de Neonatologia, 2023. Disponívelem:https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23176c-MO_Hiperbilirrubinemia_indireta_periodo_neo.pdf